Pandemia e desigualdades sociais são apontadas como grandes desafios para a Agenda 2030, durante Conferência da SDSN Brasil


Diretor da UNSDSN, Jeffrey Sachs

Jeffrey Sachs, diretor da UNSDSN, afirmou que é possível alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mas para isso se tornar realidade é necessário combater a desigualdade social. A fala do Nobel de Economia foi feita durante a abertura da Conferência Anual da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN Brasil), nesta quarta-feira, 28. Durante o encontro realizado de forma virtual, Sachs e os palestrantes apontaram ainda que a pandemia do Coronavírus intensificou os desafios e aumentou o atraso no andamento da Agenda 2030. 

Na opinião de Jeffrey Sachs, o Brasil, assim como os Estados Unidos, é um país multiétnico e extremamente desigual. Durante sua participação na Conferência pontuou que a pandemia da COVID-19 criou uma crise econômica e sanitária em nível global, em que sociedades divididas possuem grande dificuldade em combater. 

“Se mantivermos o foco em alcançar os ODS, vamos reduzir a pobreza, vamos reduzir a fome, vamos melhorar a escolaridade, vamos melhorar a expectativa de vida, vamos melhorar os empregos, vamos melhorar os serviços de energia, mas sem toda a destruição que vem junto com isto”, aponta o diretor da UNSDSN”, reitera Sachs.

Acompanhando a fala de Sachs, a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, enfatizou que a pandemia escancarou as desigualdades sociais e tornou urgente a discussão sobre o futuro do trabalho, da liderança e do capitalismo. Neste cenário torna-se necessário o uso de novas métricas de desenvolvimento humano que meçam a prosperidade e não apenas o Produto Interno Bruto (PIB), conforme salientou o Presidente do Conselho de Liderança SDSN Brasil, Sérgio Besserman.

“Nós estamos num momento decisivo da história, 2020, onde nas próximas duas, três décadas, quatro décadas nós faremos escolhas que impactarão o planeta e a humanidade por muito tempo. O dilema de aumentar a renda per capita, por exemplo, e o bem estar individual mesmo no contexto de uma sociabilidade que não tem como único objetivo um crescimento econômico medido muito falhamente pelo PIB perderá seu sentido. Isso ocorre desde agora com os ODS, e por isso a importância da SDSN”, afirmou Besserman.

Ainda na Conferência da SDSN Brasil, os participantes foram instigados a falar sobre qual ODS escolheriam para trabalhar, caso precisassem focar em apenas um. Todos foram unânimes em dizer que essa seria uma escolha difícil e concordaram que o ideal seria agregar diversos ODS em um único projeto, a partir da colaboração entre as múltiplas vertentes do desenvolvimento sustentável, conforme salientou Walfredo Schindler, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Para ele, as emissões de gases estufa no Brasil estão amplamente relacionadas com o agronegócio. Ao mesmo tempo que esta atividade gera empregos e movimenta a economia do país, é também responsável por configurar um grande fator de degradação de ativos ambientais. Neste sentido, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) fez com que essa atividade tão benéfica e problemática convirja para uma proposta de sustentabilidade. 

Ainda nesse sentido, o moderador da mesa, Rodrigo Medeiros, Membro do Comitê Executivo da SDSN Brasil, acrescentou que uma agricultura ideal seria capaz de gerar milhões sem destruir e contaminar o meio ambiente. Segundo Sachs, as novas tecnologias têm a missão de manter a agricultura brasileira competitiva e dentro de um patamar sustentável, a partir do exemplo que o Brasil não precisa destruir a Amazônia para se desenvolver, mas sim focar nos ODS.

Os ODS são interdependentes e trazem um resumo da complexidade do desenvolvimento e da sustentabilidade. Porém, Rayne Ferretti Moraes, representante da Oficial Nacional do ONU-Habitat para o Brasil, defende que não há cidade resiliente e inclusiva sem trabalhar outros desafios como a mudança do clima, a fome e a redução de desigualdades. A ONU Habitat trabalha diariamente com o ODS 11 na construção de comunidades e cidades mais justas e sustentáveis, sem esquecer dos demais ODS. 

“Os ods justamente trazem um resumo da complexidade do desenvolvimento e da sustentabilidade. Então, pensar ele como uma caixinha e escolher um é realmente complicado. A gente sabe que eles são interdependentes, que eles são interligados, e que a gente depende de um para alcançar o outro. Eu escolheria o ODS 11 (…), é o único ODS que desce no nível mais local e que busca contribuir para o principio da agenda 2030 de não deixar ninguém para trás, então é o ODS que consegue superar as médias nacionais”, explica Rayne.

O primeiro dia da Conferência Nacional da SDSN contou ainda com a participação do empresário Marco Simões. A abertura do evento foi feita pelo vice- diretor do Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente da PUC-Rio (Nima), professor Tácio Campos e, contou com as boas vindas do Reitor da PUC-Rio Pe Josafá Carlos de Siqueira, S.J. 

Publicada em 29 de outubro de 2020 e está arquivada em Notícias e Eventos.


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