Desenvolvimento Sustentável no DNA dos Negócios


Por Eliane Dantas

 

Se a inovação é o motor da economia, promover o desenvolvimento sustentável é tarefa possível, urgente e coletiva. Pequenas, médias e grandes empresas, negócios sociais e startups podem e devem inserir em seu DNA os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU.

Para difundir os ODS, criou-se em 2012 a SDSN – Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável. Uma iniciativa do Ban ki Moon, Secretário-geral da ONU, e do professor Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute na Columbia University (EUA). Minas Gerais tem seu capítulo criado pelo engenheiro, empresário, entusiasta e propulsor de negócios sociais André Lara Resende.

Para incentivar e discutir como as organizações podem gerar mais impacto social positivo, a SDSN Minas promoveu, em novembro, na sede da ONG parceira ChildFund Brasil, em Belo Horizonte, o evento “Como startups promovem o desenvolvimento sustentável em Minas”. Na ocasião, palestraram Claudio Boechat, consultor em sustentabilidade, Francis Andrade, cofundador da startup Risü, e Vinicius Lima,  professor da Universidade de Buenos Aires e escritor do livro “A riqueza das favelas – empreendedorismo entre morros e vielas”. O evento aconteceu em paralelo com o Fórum SDSN que aconteceu no Rio de Janeiro

Boechat mostrou ferramentas que possibilitam às organizações inserir nos modelos de negócios temas dos ODS. A organização, delineando e interpretando suas Zonas de Controle, de Influência e de Apreciação, pode criar estratégias para atrelar a seus produtos e serviços mais impactos positivos. Segundo Boechat, Zona de Controle é tudo que a organização controla diretamente, como contração de empregados e fornecedores. A Zona de Influência é aquela atingida como consequência dos negócios da empresa. E a Zona de Apreciação é aquela que a organização não tem influência, mas deve observar.  A partir do mapeando e das possibilidades de ação nessas zonas, as organizações podem relacionar temas como pobreza, corrupção, saúde, ou quaisquer outros dos ODS. Podem modificar processos de produção, de contratação, de venda, de relacionamento com fornecedores e distribuidores, para pensar em projetos que promovam o desenvolvimento sustentável e diminuam os impactos negativos.

O segundo palestrante foi Francis Andrade, que apresentou o modelo de negócio da Risü. Uma startup – empresa jovem, de caráter inovador e escalável – que atrela vendas com causas sociais. Pela plataforma online da Risü há um leque com mais de 200 empresas para as pessoas comprarem produtos e serviços. E quem por ela compra apoia uma causa social a escolher. A comissão que a Risü ganha com as vendas é partilhada com uma das 25 ONGs parceiras que o comprador escolhe para apoiar. Esse é o modelo cash-forward  uma forma de incluir impacto social positivo no modelo de negócio. Além de lucrar, a Risü ajuda a solucionar problemas sociais, ambientais e econômicos. Para Franz, um esforço para gerar uma tendência.

O terceiro e último palestrante, Vinicius Lima apresentou para os participantes a riqueza empreendedora que há na favela da Rocinha, no Rio de janeiro, e na Villa 31 em Buenos Aires. Sua pesquisa de mestrado revela micro e pequenos empreendedores criativos, que criaram negócios impulsionados pela oportunidade e, principalmente, pela necessidade. Como exemplos, a moça que começou vendendo café com uma garrafa térmica emprestada e 5 anos depois tem restaurante, mercadinho e dá trabalho a 4 famílias; o entregador de cartas que começou apenas fazendo um favor para a vizinhança e hoje ganha 1 real por mês de milhares de pessoas para fazer o serviço. Um universo a ser conhecido e incentivado, considerando que na América Latina 32% das pessoas moram em favelas e barracos, e no mundo são milhões que não tem um teto para morar.

As organizações devem almejar contribuir para o desenvolvimento sustentável onde estão inseridas e aonde vão suas influências, seja numa cidade ou num país. Devem traduzir temas dos ODS em estratégias, colocá-los nas metas, definir indicadores para mensurar os impactos positivos e não apenas focar nos resultados financeiros de seus produtos e serviços. Devem ampliar o campo de visão para multiplicar possibilidades e potencialidades, estar atento aos impactos negativos para reduzi-los. A organização, que tem a sustentabilidade balizando sua gestão, aumenta sua competitividade e sua reputação. Sua marca ganha mais valor.

E se o negócio social não vingar, o empreendedor não deve desistir, e sim criar outros. É preciso desmistificar o perfil do empreendedor bem-sucedido sendo quem nunca fracassou. Importante desconstruir a ideia de que lucro não combina com impacto social positivo, acreditamos que lucrar é pecado no âmbito social. Há um potencial imenso para negócios de impacto social, eles podem e estão solucionando muitos problemas e promovendo o desenvolvimento sustentável, ressaltou André Lara Resende.

Publicada em 18 de maio de 2020 e está arquivada em Minas Gerais.


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